9 de out. de 2011

Tempo e intensidade

Fico a pensar sobre o tempo, então me percebo sem tempo para o tempo. Tornamos nossa existência um imenso corre-corre, não temos tempo para fazer o que gostaríamos de fazer. Nisso as horas passam, correm os dias, avançam os anos e voa a vida. Chega um dado momento, um instante, que parece ser fora desse tempo ordinário, onde nos deparamos com nossa realidade, ficamos frente a frente com nós mesmos e ali devemos decidir assumir a vida ou não. Há pessoas que correm a vida, voam a vida, não percebem que já são adultos, que cresceram, que casaram, que têm filhos, que seus filhos desejam algo mais que mesada e dinheiro. Para estes o tempo é um inimigo, pois é preciso correr e seu único obstáculo é aquele que não passa, ou que passa muito rápido, o tempo. Na filosofia, falamos da dinâmica de dois tempos, um cronológico, onde as coisas acontecem como se assistíssemos a uma peça teatral, onde vivemos em busca de coisas que nos sustêm, tempo no qual os anos passam, o corpo envelhece, as coisas perdem o sabor. Esse tempo cronológico é dominado pelo deus relógio, que surgiu para marcar o que havia passado e hoje tem a função de determinar o porvir, que cada vez mais se aproxima mais rápido. O outro tempo é o kairótico, tempo da existência, onde não assistimos à peça, mas somos os atores da mesma. Nesse tempo o relógio não há, um minuto é eterno, uma hora passa num segundo. O tempo kairótico é o tempo da essência, do saborear, do paladar, do sentir, do gostar, do amar. Tempo em que vivemos a mais pura realidade do que somos, tempo dos apaixonados, onde a noite sempre é curta, tempo do beijo delicioso, do bate papo informal, da cerveja gelada, tempo do prazer, do amor, da alegria, da roda de chimarrão. Em nossa existência capitalista, temos a necessidade preencher todo o tempo cronológico de modo que sempre estamos nos ocupando de afazeres diversos.Temos de produzir, de fazer coisas que nos dêem dinheiro. Contudo, o dinheiro não nos garante a vitalidade dos momentos intensos de nossa vida. De maneira que um dia, quando acordarmos, veremos que estamos velhos, nossos filhos cresceram, somos avôs e não vimos como isso ocorreu, enfim não participamos dos melhores momentos de nossa vida e nem da de nossos filhos. Triste será quando imaginarmos que nossos filhos devem ganham bem, ter nome, afinal ser feliz é ter dinheiro. E o tempo se foi. Criaremos confusão por qualquer coisa que envolva dinheiro, estaremos esperando que nossos filhos sejam o que não conseguimos ser: ricos. Mas não entenderemos que na vida basta ser feliz. Dinheiro, poder, nome, isso o tempo leva; e o que restará então? Os momentos kairóticos de nossa vida, as cervejas que tomamos juntos, as noites de amor, os beijos apaixonados, o nascer dos filhos, o crescer dos netos, os amigos verdadeiros. Caro amigo, leitor, gostaria de levar-te a esta reflexão. Não deixe que o tempo (cronológico) tome conta de você. Assuma sua vida em seus momentos verdadeiros e simples, viva o instante intensamente, chore, ria, cante. Mas conheça também a docilidade do perdão, do eu te amo. Não queira dominar a todos, seja simples e faça o que tem de ser feito. É possível que o modo em que vivemos esteja nos lançando para o produzir, para o ganhar, para o consumir, mas aprendamos a fazer cada uma destas coisas com intensidade e verdade, nunca esquecendo o mais precioso sabor do amor.

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Não é o dinheiro, estúpido


Não paute sua vida pelo dinheiro: seja fascinado pelo realizar e o dinheiro virá como consequência

SOU, COM FREQUÊNCIA, chamado a fazer palestras para turmas de formandos. Orgulha-me poder orientar jovens em seus primeiros passos profissionais.

Há uma palestra que alguns podem conhecer já pela web, mas queria compartilhar seus fundamentos com os leitores da coluna.

Sempre digo que a atitude quente é muito mais importante do que o conhecimento frio.

Acumular conhecimento é nobre e necessário, mas sem atitude, sem personalidade, você, no fundo, não será muito diferente daquele personagem de Charles Chaplin apertando parafusos numa planta industrial do século passado.

É preciso, antes de tudo, se envolver com o trabalho, amar o seu ofício com todo o coração.

Não paute sua vida nem sua carreira pelo dinheiro. Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como consequência.

Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser um grande bandido ou um grande canalha. Napoleão não conquistou a Europa por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro.

E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar. Tudo o que fica pronto na vida foi antes construído na alma.

A propósito, lembro-me de um diálogo extraordinário entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a tratar dos leprosos, diz: "Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo". E ela responde: "Eu também não, meu filho".

Não estou fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas que pensar e realizar têm trazido mais fortuna do que pensar em fortuna.

Meu segundo conselho: pense no seu país. Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si.

Era muito difícil viver numa nação onde a maioria morria de fome e a minoria morria de medo. Hoje o país oferece oportunidades a todos.

A estabilidade econômica e a democracia mostraram o óbvio: que ricos e pobres vão enriquecer juntos no Brasil. A inclusão é nosso único caminho. Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu vomito. É exatamente isso que está escrito na carta de Laodiceia.

É preferível o erro à omissão; o fracasso ao tédio; o escândalo ao vazio. Porque já li livros e vi filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso (ou narra e fica muito chato!).

Colabore com seu biógrafo: faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido.

Tenho consciência de que cada homem foi feito para fazer história.

Que todo homem é um milagre e traz em si uma evolução. Que é mais do que sexo ou dinheiro.

Você foi criado para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, caminhando sempre com um saco de interrogações numa mão e uma caixa de possibilidades na outra. Não dê férias para os seus pés.

Não se sente e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: "Eu não disse? Eu sabia!".

Toda família tem um tio batalhador e bem de vida que, durante o almoço de domingo, tem de aguentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo o que faria, apenas se fizesse alguma coisa.

Chega dos poetas não publicados, de empresários de mesa de bar, de pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta à noite, todo sábado e todo domingo, mas que na segunda-feira não sabem concretizar o que falam. Porque não sabem ansiar, não sabem perder a pose, não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar.

Só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. E isso se chama "sucesso".

Seja sempre você mesmo, mas não seja sempre o mesmo.

Tão importante quanto inventar-se é reinventar-se. Eu era gordo, fiquei magro. Era criativo, virei empreendedor. Era baiano, virei também carioca, paulista, nova-iorquino, global.

Mas o mundo só vai querer ouvir você se você falar alguma coisa para ele. O que você tem a dizer para o mundo?


NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC

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