"As Secretarias de Estado da Educação e do Desenvolvimento Social fecharam uma parceria para que todos os alunos dos ensinos fundamental e médio recebam informações e aprendizado sobre a chamada Terceira-Idade. Ainda este ano, os professores da rede pública estadual serão capacitados para tratar desse assunto com os alunos. O objetivo é que os alunos aprendam a valorizar a Terceira-Idade e saibam sobre a importância dos idosos para a sociedade". Cabe um esclarecimento: idoso é sinônimo de aposentado. E aí, a primeira pergunta que se deve fazer é a seguinte: governo é sociedade? Se for, já surge aqui uma primeira contradição. Ninguém se importa menos com os idosos e os aposentados do que o próprio governo. Está aí um governo que, por suas ações, ou melhor, omissões, prova que não respeita os aposentados. Apesar disso, e disso conscientes, e por estarmos sempre dispostos a ajudar, a colaborar (essa eterna mania de educador!!), gostaríamos de sugerir um conteúdo programático para esse treinamento. Sugerimos que se exija de todos os professores a leitura das obras de Jonathan Swift, escritor inglês do século 17, autor de "As Viagens de Gulliver". Dessas obras, em especial o texto em que ele descreve a solução fantástica que os habitantes de uma ilha imaginária descobriram para acabar com a pobreza: matar os pobres. Algo semelhante ao que se faz com os idosos e os aposentados no Brasil, só que aqui a coisa é mais sutil, mais disfarçada. Tratar o idoso e o aposentado, daquela forma, seria cruel, sem dúvida, mas também mais sincero e menos demagógico. Hoje, na verdade, parece que a maneira mais segura de melhorar a aposentadoria é morrer mais cedo.
O governo fala da importância dos idosos para a sociedade, ao mesmo tempo em que os exclui dos reajustes salariais e dos benefícios das reestruturações de carreiras, o que concorre para o seu crescente e contínuo empobrecimento. No magistério, os aposentados foram excluídos do reajuste salarial, do bônus e de todas as gratificações: por atividade de magistério, por trabalho educacional, de função e de representação. Em resumo, nega-se aos aposentados o direito a uma vida com um mínimo de qualidade. O governo que enfatiza a importância da discussão das questões sobre o envelhecimento, é o mesmo que oferece aos aposentados um péssimo serviço de saúde, obrigando-os a correr para os caríssimos e proibitivos planos de saúde privada. O governo que ressalta a importância da valorização da Terceira-Idade é o mesmo que faz o possível e o impossível para impedir ou adiar a aposentadoria dos educadores. É preciso que esse governo seja lembrado de algumas premissas básicas. Os aposentados não querem apenas reconhecimento; eles exigem respeito aos seus direitos. Os aposentados não querem ser valorizados em cursos e treinamentos; eles exigem respeito no seu dia-a-dia. Os aposentados não querem privilégios; eles exigem respeito à sua dignidade.
Enquanto essas premissas não se concretizarem, os idosos e os aposentados agradecem, mas dispensam aulas e palestras sobre a sua importância, assim como as parcerias para capacitação sobre a Terceira-Idade. Porque, nesse contexto, sabem eles que tudo isso é mera demagogia. Os aposentados sabem muito bem que, na verdade, eles não são importantes para o governo, nem são respeitados por ele. Essa perfumaria que o governo agora alardeia-uma parceria para tratar da importância do idoso- não passa de demagogia barata. Todos os recursos que serão desperdiçados com esses treinamentos, aulas e materiais deveriam ser convertidos em proventos, gratificações e bônus para os aposentados. Teriam melhor destino e uso. E, como um exemplo vale mais que mil palavras, com essa atitude o governo estaria mostrando respeito aos idosos, aos aposentados, reconhecendo e valorizando a sua importância social.
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